abelha nativa alimentação suplementação alimentar xarope 27/06/2024 Sandro Muniz

Sobre a alimentação suplementar das abelhas nativas sem ferrão – com receita

Uma das grandes dúvidas dos iniciantes da grande aventura de criar abelhas nativas sem ferrão é sobre a alimentação suplementar. Eu mesmo tive e tenho até hoje. Nesse artigo tento repassar parte de meu conhecimento e experiência sobre o tema. Apresento também sugestões e cito alguns artigos. Pretendo colocar, ao fim, alguns artigos e estudos em pdf para que o leitor e criador que quiser se aprofundar mais tenha acesso a mais conhecimento e possa criar, de repente, suas próprias formulações.

Como toda criação de animais ou plantas fora dos parâmetros “normais e naturais” devemos nos preocupar com a saúde de nossa criação, se tem doenças, se está bem alimentada – até nossas orquídeas precisamos adubar – se bate muito Sol, se sofre frio e por aí vai.

Se você quer ter sucesso na criação racional de abelhas nativas deverá se preocupar em alimentar de forma adequada suas colmeias, ainda mais se você morar longe de áreas sem florestas ou terrenos baldios.

Alimentar com xarope (carboidratos) ou pólen (proteínas, lipídios, vitaminas)?

A oferta de xarope feito com açúcar ou de proteínas via pólen, cevada, soja (já vi até quem dê gema de ovo de galinha… eu mesmo já dei gelatina para as minhas e elas amaram, deixo para um próximo artigo…) ou outros compostos, vai depender da estação do ano, do estado atual da colmeia – forte, fraca, média – por isso é importante você ler, conversar com quem entende (estou aqui pra isso) e se dedicar. Se não quer gastar tempo e se dedicar mude de ramo, vá atrás de algo que seja fácil; cuidar de abelhas não é simples nem fácil, por mais que elas não sejam carentes de amor como nossos dogs e gatos, e tenham uma grande independência, as abelhas precisam de atenção, se você se dedicar e for “carinhoso e atencioso” com elas com certeza saberá o correto momento de ofertar ajuda.

De acordo com o grande Paulo Nogueira-Neto no livro “Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão”, a falta temporária de pólen não é tão importante para a vida das abelhas quanto a ausência do mel.

A oferta de pólen quando não há floradas, se não for bem feita, poderá atrair forídeos (insetos que podem destruir uma colônia). Então, se for ofertar pólen tenha certeza que ele será usado rapidamente e acompanhe.

Tem uma galera que faz um bombom de pólen, que é o pólen triturado com mel mergulhado em cera derretida, que depois seca e fica na forma que você modelou a maçaroca. Eu acho pouco prático quando você tem muitas colmeias.

Eu faço apenas o pólen numa tampinha e depois cubro com cera líquida derretida, fica como na foto:

como ofertar proteinas para suas abelhas nativas

Dou apenas se a colmeia está em divisão recente e se percebo a ausência de potes de pólen na colmeia ou a não entrada de abelhas com pólen nas curbículas durante alguns dias.

O xarope vai beneficiar as abelhas em vários sentidos. Diversos estudos indicaram um aumento na produção de mel nas colmeias alimentadas com dieta energética, além de um aumento no número de células de cria (Barbosa et al, 2023). Isso sugere que a alimentação artificial energética pode beneficiar o crescimento e a produtividade das colônias, destacando a melhoria da qualidade e quantidade da produção de mel (Barbosa et al, 2023).

Em relação a oferta de fontes proteicas, estudos apontaram que as dietas ricas em proteínas influenciaram positivamente o desenvolvimento das larvas e a longevidade das abelhas adultas (Barbosa et al, 2023). Claro que geralmente os estudos científicos focam em apenas uma espécie, e cada uma responde de um modo aos alimentos oferecidos, inclusive tem espécies que recusam alimentos externos. Dependendo da espécie ou a forma de oferta as abelhas podem simplesmente pegar o alimento e jogar na lixeira interna, favorecendo a proliferação de inimigos das abelhas ou levar a comida para fora da colmeia.

Eu, até hoje, sempre tive sucesso na alimentação suplementar que ofereço para as diversas espécies de abelhas presentes no Meliponário Casa Abelhas.

Vamos à receita que uso para o xarope:

1 parte de água para uma parte de açúcar. Costumo medir em copos.

1 pitada de sal, que irá fornecer alguns íons e Na e Cl que são importantes para todos os animais.

1 colher de limão. Li tempos atrás que as abelhas preferem o xarope com açúcar invertido que é obtido com a adição de limão.

Coloco algumas poucas gotas de um vitamínico líquido, tenho usado o Biotrin vet que é usado em aves. Nunca tive problemas e acredito, pela quantidade de aminoácidos, cálcio e vitaminas (muitas) tem sido benéfico para minhas abelhas. Mas em 90% das vezes não uso suplementos vitamínicos.

Paulo Nogueira-Neto usava a seguinte proporção: 40% de água e 60% de açúcar.

Eu já usei muito essa medida, mas ultimamente mudei e tenho usado 50% 50%, e não sei se é devido ao inverno (no memento da escrita desse artigo estamos no inverno de 2024) as mandaçaias e uruçus estão “devorando”. Teve época que usei 70% de açúcar, não mais. Nessa semana li um artigo da querida pesquisadora Márcia Ribeiro da Embrapa que analisaram a aceitação de diferentes concentrações de açúcar e veja só a conclusão:

Houve diferenças significativas (p < 0,01) entre as concentrações: quanto maior a concentração de açúcar menor o consumo pelas abelhas. De fato, o maior consumo ocorreu com a menor concentração de açúcar, o que foi confirmado pela análise de regressão (R2 = 0,85, p= 0,00) (Lima et al, 2003).

A seguir sequência de fotos exemplificando a “feitura” do xarope energético e proteico 01 de Sandro Muniz.